Foco na notícia Redação 17 de maio de 2025 (24)

Sul e Sudeste do Pará: Um Gigante Cultural, Econômico e Político que Exige Reconhecimento

Por CRISTIANO MEDINA, bacharel em direito.

Historicamente chamada de Vale do Tocantins, esta região, situada no Sul e Sudeste do Pará, é um verdadeiro mosaico de culturas, histórias, rios e povos. O nome mais apropriado para definir esta imensidão de terras ainda é um enigma para os historiadores, um quebra-cabeça sem solução definitiva. No entanto, é impossível negar que este território pulsa com uma identidade própria, rica e complexa, como a mestiça retratada no poema de Gonçalves Dias — não indígena, não branca, mas Marabá. Uma mistura poderosa, cuja etimologia vem do latim miscere: misturar.

Marabá, coração dessa região, não é apenas uma cidade, mas um símbolo. Conhecida carinhosamente como Mara-bela, é banhada pelas águas dos rios Tocantins e Itacaiúnas e carrega, em seu nome e em sua gente, a alma ribeirinha e a força dos encontros culturais que moldaram este território.

Do Vale dos Rios ao Vale dos Minerais

Na década de 1980, os olhos do Brasil voltaram-se para esta região com a implementação do ambicioso Projeto Grande Carajás (PGC), idealizado pelos militares com foco na exploração mineral. Contrariando a origem indígena do nome Carajás, o projeto não teve qualquer relação direta com o povo originário. Seu objetivo era claro: transformar as riquezas do subsolo em motor de desenvolvimento econômico nacional, ainda que à custa de impactos ambientais e sociais profundos.

A Estrada de Ferro Carajás, os portos e a infraestrutura construída a partir desse projeto deram novo fôlego à integração econômica da região. Cidades como Parauapebas, Canaã dos Carajás e Marabá se transformaram em polos de produção mineral, concentrando parte significativa do PIB estadual.

Rios, Fé e Resistência

Antes do ferro, era o látex que movia o ciclo econômico. Antes das mineradoras, eram os barcos que cruzavam os rios carregando sonhos, gado, comércio e fé. A navegação nos rios Tocantins e Araguaia foi fundamental para a ocupação do território — tanto que Alcobaça (atual Tucuruí) chegou a ser base para um projeto ferroviário estratégico, ligando o Pará ao Goiás.

A identidade da região também está fortemente marcada pela fé popular. Nomes como Santana do Araguaia, Conceição do Araguaia, São Geraldo, São Domingos, Palestina, Bom Jesus e tantos outros demonstram a presença intensa das missões religiosas e da espiritualidade no cotidiano das comunidades. Povoados com nomes como Santa Isabel, Santo Antoninho, Santa Cruz dos Martírios não deixam dúvida: aqui, a fé é um elo ancestral.

Cultura: Um Espetáculo de Diversidade

A cultura do Sul e Sudeste do Pará é plural. É amazônica, nordestina, goiana, indígena, cabocla e caipira. É marajoara e sertaneja. É festa de boi-bumbá, é Reisado, é Divino Espírito Santo, é mara-luar, é cavalgada e agropecuária. É um calendário que vibra com as cores de junho, o batuque do carnaval e as rezas entoadas nos terreiros. Um espetáculo da miscigenação que vai da música ao artesanato, da culinária à literatura oral.

Poder e Educação: Um Novo Capítulo

Com 39 dos 144 municípios do estado, o Sul e Sudeste do Pará representa quase um terço do território paraense. São mais de 1,1 milhão de habitantes, com Marabá e Parauapebas liderando em população e influência.

O Produto Interno Bruto da região ultrapassa os R$ 8,4 bilhões, com destaque para Canaã dos Carajás, Parauapebas e Marabá, cidades que despontam como potências econômicas. O maior rebanho bovino do país está aqui — São Félix do Xingu lidera com impressionante volume de criação.

No campo científico, a região conquistou marcos importantes. A criação da UNIFESSPA (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará) em 2013, pela então presidente Dilma Rousseff, deu um novo impulso ao desenvolvimento acadêmico regional. A instituição atua em sete campi, espalhados por cinco municípios, com sede em Marabá. Além disso, a UEPA também se consolida com a transição para a futura UESSPA — Universidade Estadual do Sul e Sudeste do Pará, sinalizando a maturidade educacional do território.

A Força Política que se Ergue

A força política da região não passa mais despercebida. Com presença marcante na Assembleia Legislativa e forte tendência de lideranças à direita e centro-direita, cresce o movimento de emancipação da região e sua valorização dentro do contexto estadual. É possível que os próximos candidatos a vice-governador, tanto de situação quanto de oposição, saiam deste celeiro político.

O Sul e Sudeste do Pará exige mais do que olhares momentâneos — pede reconhecimento estruturado e investimento estratégico. A região não é apenas produtora de riquezas naturais, mas um berço de povos resilientes, de culturas entrelaçadas, de fé inabalável e de vocação para crescer com as próprias pernas.


Sul e Sudeste do Pará: não apenas um território, mas um projeto de futuro que já pulsa no presente.

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