Foco na notícia admin 7 de maio de 2025 (80)

Os Portões se Fecham: Começa Hoje o Conclave que Pode Mudar a História da Igreja

Por Cristiano Medina, Bacharel em Direito

MARABÁ (PA) – A palavra Conclave advém da língua materna o latim “cum-clave”, indicam um local ou espaço reservado na casa, “fechado a chave”. Onde se realizara a eleição de forma secreta ou reservada. Na linguagem da Igreja, é usado para eleição do Pontífice, quando e convocado todos os Cardeais do Colégio Cardinalício, (votantes e não votantes) para eleger o novo Papa. Nesta quarta-feira (07) o mundo estará de olhos para a chaminé do alto da sacada da Capela Sistina de Michelangelo, no museu do Vaticano em Roma. Onde os 250 cardeais, dos cinco continentes ao redor do mundo elegera o próximo pontífice, que governara a Igreja Católica Romana e outros ritos orientais, também o Estado do Vaticano, será o líder supremo.  Dos 250 Cardeais, apenas 133 tem o poder de voto, certo que os não votantes tem poder de influenciar no conclave pela experiência e poder.

(Ao longo dos séculos, sucederam-se mudanças que moldaram a estrutura do Conclave, em 1059 o Papa Nicolau II, introduziu a bula “In nomine Domini”. Nesse documento, estabeleceu-se, em particular, que somente os cardeais poderiam eleger o Romano Pontífice. Essa bula foi definitivamente ratificada pela Constituição Licet de vitanda, promulgada por Alexandre III em 1179. Ela introduziu a necessidade da maioria de dois terços dos votos, um elemento importante da eleição do Papa que chegou até os dias atuais, (…) Em 1268, Dezoito cardeais se reuniram no Palácio Papal de Viterbo para eleger o Papa.  Foi o “Conclave” mais longo da história. O Papa foi eleito após dois anos e nove meses. Eram tempos difíceis. Durante esse longo período, a população de Viterbo, decidiu trancar os cardeais no Palácio. As portas foram fechadas com tijolos e o telhado removido. Por fim, Gregório X, arquidiácono de Liège, que na época se encontrava na Terra Santa, foi eleito. Em 1274, ele promulgou a Constituição Ubi periculum, que instituiu oficialmente o Conclave). https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2025-04/conclave-historia-idade-media-futuro-eleicao-pontefice.html.

 Pois bem, o próximo Papa tem a missão de liderar quase um bilhão e meio de católicos, de vários ritos, de Eparquias, Católicos orientais, Ortodoxos e Romanos. Quem esteve à frente da Igreja Católica foi o Papa Francisco, até dia 21 de abril de 2025. Arcebispo de Buenos Aires na Argentina, como ele disse, que veio do fim do mundo quis se chama Francisco, de ascendência italiana. Francisco e um projeto de igreja, dos pobres marginalizado, dos excluídos e refugiados da guerra. A primeira viagem visita a ilha de Lampedusa, no sul da Itália. Defensor da causa Palestina, um Papa do diálogo inter-religioso. Todos os dias ele ligava para o Padre Gabriel Romanelli, em Gaza, tinha eles em seu coração, destinou como último ato a entrega do Papa Móvel para ser tornar uma ambulância para atender as crianças de Gaza. Sempre em seu habito a ligação cordial com seus amigos, na Argentina, ligava para sua amiga Clelia Luro de Podestá e no meio as perseguições num belo dia deu um telefonema para o Padre Júlio Lancellotte, em São Paulo. Fez o sínodo para Amazônia e escreveu uma encíclica, “querida Amazônia” tinha sua preocupação com a casa comum.  

Dom Erwin Kräutler, Bispo Emérito do Xingu, participou do Sínodo dos bispos para Amazônia. Foi um dos principais prelados e teólogos no Sínodo da Amazônia, realizado em Roma em 2019. Ele fez parte do Conselho Sinodal e desempenhou um papel fundamental na apresentação dos desafios e preocupações da Igreja na Amazônia. Já tinham se encontrado com o Papa Francisco nos anos iniciais de seu pontificado. Ouvimos sua opinião sobre esse conclave. Ele ressalta de forma firme e contundente o que significou o pontificado de Francisco. 

Francisco endossou na sua prática os temas e objetivos da Teologia da Libertação. Ele desceu ao chão concreto da pobreza e marginalização. Francisco se espelhou no Deus do Êxodo (Ex 3,7-9), viu a miséria, ouviu o clamor dos oprimidos, conheceu de perto o sofrimento e empenhou-se na libertação de todos (“Todos! Todos! Todos!”), de amarras pessoais e estruturais na procura de uma vida com dignidade.  O Papa Francisco iniciou reformas e ansiou por uma Igreja “em saída” que vai “às periferias”, uma Igreja que vê, ouve, conhece a realidade sofredora, se opõe a tudo que é desumanizante e é arraigada na tradição que nos advém do Evangelho de Jesus que os Apóstolos anunciaram e testemunharam. A tradição não significa ficarmos presos a usos, costumes e expressões ou “algoritmos” que se modificam ao longo dos séculos. A tradição nada tem a ver com saudosismo de tempos que passaram, mas é a firmeza de jamais negar as raízes apostólicas e as verdades eternas, reveladas por Deus. Estou convicto de que o próximo Papa ou os futuros Papas não vão querer voltar a uma Igreja pré-conciliar e distanciar-se de Francisco, abdicando a uma Igreja “sinodal”, tão almejada por ele.” (Altamira, 6 de maio de 2025, Erwin Kräutler, Bispo em. do Xingu).

Dom Erwin, foi fundamental quanto presidente do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) e Presidente da REPAM da Pan-Amazonia (Rede Eclesial Pan – Amazônica). Deu contribuição para documentos da igreja, inclusive com as encíclicas, que o Papa Escreveu. Ele ressalta que o Papa tinham em si varias a preocupações com a Amazônia, seus povos e seus pastores, escreveu uma encíclica especificamente para essa imensa região “Querida Amazônia”.

Numa realidade cultural como a Amazónia, onde existe uma relação tão estreita do ser humano com a natureza, a vida diária é sempre cósmica. Libertar os outros das suas escravidões implica certamente cuidar do seu meio ambiente e defendê-lo[46] e – mais importante ainda – ajudar o coração do homem a abrir-se confiadamente àquele Deus que não só criou tudo o que existe, mas também Se nos deu a Si mesmo em Jesus Cristo. O Senhor, que primeiro cuida de nós, ensina-nos a cuidar dos nossos irmãos e irmãs e do ambiente que Ele nos dá de prenda cada dia”. (Exortação Apostólica, Querida Amazônia do Santo Padre, Papa Francisco; Ao Povo de Deus e as Todas as Pessoas de boa Vontade, pg 41).Outras encíclicas foram escritas entre elas: “Evangelii Gaudium – 2013”, “Amoris laetitia – 2016”, “Laudate Deum – 2023”, entre outras.

Francisco é o Papa que fez pontes e se tornou um dos líderes mais respeitados no mundo. Tais pontes quando ele abriu diálogo com a Igreja Católica Ortodoxo da Rússia, e se encontrou com o Patriarca Kirill, líder Ortodoxo, tiveram um encontro histórico em 2016 em Havana, Cuba desde o grande cisma de 1054. Tal encontro também aconteceu com om o principal líder Xiita do Iraque, o grande Aiatolá Ali al-Sistani, na cidade de Najaf, no Iraque. Sua diplomacia diminuíam as tenções no mundo, quantas vezes ele escalava os Cardeais; Parolin e Tagle, para ajudar a diminuir e tirar as tensões em conflitos na África, Ásia e na Europa.

O Conclave iniciou hoje, 07 de maio de 2025, quem será o próximo Papa? As alas conservadoras e progressistas, tem nome para o próximo papado, não há evidencias de divisões nesse momento no seio da Igreja, isso não quer dizer que não há disputas e que nos bastidores fervem as ideias.

Trago aqui Analise de 10 Cardeais 5 de linhagem conservadora e 5 de linhagem progressistas.

Sarah, de 79 anos, nasceu na Guiné e ocupa atualmente o cargo de Prefeito Emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, no Vaticano. A idade já avançada coloca um certo entrave ele e defensor da doutrina e do santo oficio, firme na defesa da doutrina e das tradições. Se opõem a possibilidade de abertura do celibato e da ordenação de mulheres, além de ser contrário a eucaristia para casais de segunda união e a benção para casais homo afetivos.

Robert Sarah. Imagem REUTERS/Hannah McKay.

O cardeal Burke, 76 anos. Ultraconservador norte-americano Raymond Leo Burke, Prefeito Emérito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica se tornou Cardeal em 2010, nomeado pelo papa Bento XVI, ele e o principal candidato dos conservadores, setores. Se eleito fará um desmonte nas reformas que Francisco o fez, seria mais firme do que Joao Paulo II, defensor de missa tridentina e das pompas clericais.

Raymond Leo Burke, Imagem: Reprodução/Instagram @cardinalraymondburke.

Cardeal Péter Erdô, de 72 anos, é arcebispo de Budapeste desde 2003. Ele foi indicado ao cargo pelo papa João Paulo II, e na época de sua nomeação, era um dos mais jovens cardeais, com 51 anos. Erdő tem prestígio dentro da Igreja Católica, tendo atuado como relator do Sínodo dos Bispos da Família em 2014 e comandado a Assembleia Geral dos Bispos no mesmo ano, um teólogo refinado, esse é o principal candidato dos conservadores moderados, seria um Bento XVII. Se eleito e a continuidade dos pontificados de Joao Paulo II e Bento XVI, teria uma mudança de rota na Igreja.

Cardeal Péter Erdô  – Imagem: Mohammed Salem/Reuters.

Ranjith, de 77 anos, é único cardeal do Sri Lanka. Ele possui tanto experiência pastoral como em governança, ocupando atualmente o cargo de arcebispo de Colombo. Cardeal mantém posições conservadoras. O Sri Lanka é um país tradicionalista, e talvez por isso Ranjith nunca tenha precisado se posicionar sobre questões como casamento entre pessoas de mesmo sexo e eutanásia. Entretanto, já chamou a homossexualidade de “defeito”. Ranjith tinha boa relação com papa Francisco, com quem compartilhava preocupação com pobres. Entretanto, diferia dele em algumas questões: se disse favorável à pena de morte em alguns casos e ao retorno “à verdadeira liturgia da Igreja”, contrariando reformas promovidas pelo antigo papa. Fluente em dez línguas. Ranjith fala italiano, alemão, francês, hebraico, grego, latim, espanhol, inglês, cingalês e tâmil.

Cardeal Malcolm Ranjith, – Imagem: Vatican News/Divulgação

Müller, de 77 anos, é prefeito emérito da Congregação Para A Doutrina Da Fé. O alemão se tornou cardeal em 2014, nomeado pelo papa Francisco. Ex-professor universitário e teólogo. Müller deu aulas na Universidade Ludwig Maximilian de Munique por dezesseis anos, enquanto atuava como padre em paróquias locais. Até hoje, é professor honorário da instituição. Se diz apenas “católico”, negando rótulo de conservador. Entretanto, suas visões sobre os rumos da igreja são pouco liberais: ele recusa maior participação feminina na Igreja e resiste mudanças ao celibato de padres.

Cardeal Gerhard Ludwig Müller – Imagem: ALBERTO PIZZOLI/AFP

Os 5 cardeais progressistas que tem grandes chances.

Coloco na lista um Sul Americano por fazer parte da Pan Amazônia e pelo fato de ter participado do sínodo para Amazônia, um dos principais eventos da Igreja no tempos de Francisco. O nome do Cardeal Leonardo Steiner. Ordenado padre em 1978 pelo Cardeal dom Paulo Evaristo Arns, foi nomeado bispo em 2005 para a Prelazia de São Felix do Araguaia (conviveu com dom Pedro Casaldáliga), tem uma longa trajetória na Igreja Católica e na Amazônia: Sua nomeação como Arcebispo de Manaus em 2019 e, posteriormente, como Cardeal, ressalta a importância da Amazônia na Igreja Católica. Dom Leonardo já se manifestou em diversas ocasiões, inclusive na ONU em defesa do povos indígenas. O que pesa ao contrário, Francisco e um Papa que saiu da América do Sul.

Dom Leonardo Steiner, imagem/cúria diocesana.

O Cardeal Matteo Maria Zuppi, de 69 anos, é Arcebispo de Bologna, Itália. O italiano foi indicado ao cargo pelo papa Francisco, em 2015, que também o nomeou para ser Cardeal, em 2019. Hoje, também ocupa o cargo de chefe da Comissão Episcopal Italiana. Pertence à ala progressiva no Vaticano. Ele vê como necessárias as reformas na Igreja Católica, seria um Francisco II, é comum ver o Cardeal Zuppi em sua bicicleta tanto em Bolonha como aos redores do Vaticano. Um nome que vem com muita força e indicado por todas as fontes como sucessor de Francisco. Portanto acredito que o próximo papa não vira da América Latina ou América do Norte, nem da África e nem da Europa, por mais que seja um dos fortes candidato, o Cardeal Zuppi ganhou forças nos últimos dias. Há que se destacar que o ultimo Papa italiano foi o Cardeal Albino Luciani.

Cardeal Matteo Maria Zuppi – Imagem: Andreas SOLARO/AFP

O nome forte da diplomacia com experiência vem da Ásia, Cardeal Luis Antonio Tagle. Filipino de 67 anos tem ideais progressistas, filho de mãe Chinesa. Foi Arcebispo de Manila, Filipinas. Luis Tagle foi convidado em 2019 pelo papa Francisco a viver em Roma e ocupar o cargo de pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, que ocupa até hoje. Foi chamado de “Francisco asiático”. O Papa elevou Tagle à posição de bispo/cardeal em 2020, indicando que ele poderia ser um possível sucessor ao papado. Tagle e um refinado teólogo de posições parecidas com a de Francisco sobre os rumos da Igreja Católica. Sendo Papa ou Cardeal, Tagle cumpre o principal papel no Vaticano para ser o conciliador e a cabeça de ponte entre o Vaticano e a China. A diplomacia passará por este Cardeal. Ressalvo que o Papa será um cardeal que estará na casa dos 60 e 70 anos, esses mencionados sobretudo os progressistas, estão nesta idade mediana. O próximo Papa, não será jovem demais e nem muito idoso, acima dos 80 anos.

Cardeal Luis Tagle – Imagem: Hannah McKay/REUTERS

Cardeal Parolin é atual secretário de estado do Vaticano. O italiano de 70 anos teve curta carreira pastoral, se envolvendo com o Vaticano pouco após se formar. Ele foi nomeado ao cargo de secretário de estado pelo papa Francisco em 2013. Ex-diplomata da Santa Sé. Parolin já atuou em vários países e se tornou chefe das relações da Santa Sé com a China, Israel, Coreia do Norte e Vietnã que possuem atritos históricos com o Vaticano. Favorável a comunhão de divorciados e Igreja mais democrática. 

Cardeal Pietro Parolin –  Imagem: Tiziana FABI / AFP.

Cardeal Turkson, de 76 anos, é figura conhecida no Vaticano. O ganês foi nomeado cardeal em 2002 pelo papa Bento 16 e já realizou diversas funções para a Santa Sé. Entre as principais, foi presidente do Pontifício Conselho por Justiça e Paz, coordenador de uma força-tarefa para responder a consequências econômicas da pandemia e chanceler da Pontifícia Academia das Ciências e da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, cargo que ocupa até hoje. Veio de família multi-religiosa. O cardeal vem de uma família de dez filhos em que o pai era católico e a mãe era metodista. Além disso, tinha um tio muçulmano. Possui visões liberais, embora seja de orientação religiosa ortodoxa. Turkson vê o uso de contracepção pelos fiéis como uma opção em alguns casos, mas é contra o direito ao aborto, eutanásia e o casamento homossexual. Turkson é favorável à opção para celibato para padres. O ganês é um dos defensores de que a medida pode ajudar a solucionar o problema da falta de religiosos em lugares isolados, como na Amazônia.

Cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson. Imagem: Filippo MONTEFORTE/AFP.

Nesta manhã de quarta-feira, 07 de Maio de 2025, dentro da Basílica da praça São Pedro, foi realizada a missa de abertura do Conclave, que irá eleger próximo sumo pontífice. Quem realizou foi o cardeal mais antigo do colégio cardinalício Giovanni Battista Re.  Logo em seguida os cardeais ficaram isolados de todas as comunicações e do mundo, (isolamento), dentro da Capela Sistina, no final da manhã desta quarta. Quem conduzira o retiro, ou a meditação e o cardeal Raniero Cantalamessa e fazem o juramento solene: “Prometo e juro, assim que Deus me ajude e os Santos Evangelhos me guiem”.

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