Política admin 1 de maio de 2025 (77)

Estrada do Rio Preto Em Marabá: o caminho esquecido de um povo trabalhador

Por trás da poeira, do barro e dos buracos, pulsa uma região que sustenta parte do Pará com o suor de quem resiste há décadas ao abandono.

MARABÁ (PA) – Desde que foi aberta, ainda em 1982, a estrada que corta a região do Rio — uma extensão esquecida da BR-222 — se tornou o eixo vital para milhares de famílias, comunidades inteiras e um ciclo econômico que envolve desde a agricultura familiar até a extração de minério. Hoje, quase 260 quilômetros de terra vermelha se impõem como uma ferida aberta no mapa do sudeste paraense.

Oficialmente vicinal, mas com alma de PA, a estrada interliga os municípios de Marabá, Itupiranga, Novo Repartimento e São Félix do Xingu. Por ela passam, diariamente, cerca de dois mil caminhões carregados de minério, além de bois, madeira, cacau, sonhos e necessidades. Cada buraco que se aprofunda na pista é também um rasgo no cotidiano de quem luta para manter a vida no campo.

“Compra-se uma caminhonete nova e em dois anos tem que vender, porque acaba com tudo”, desabafa Silvaney Pereira dos Santos, produtor rural de 40 anos que vive há duas décadas na Vila Três Poderes, a 115 km de Marabá. “O que mais deixa a desejar é a estrada. O governo precisa enxergar a riqueza que temos aqui”, afirma, citando a pujança da pecuária, o potencial agrícola e a chegada de uma nova fronteira: o cultivo do cacau.

A região não é apenas rica. É estratégica. É dali que saem toneladas de alimentos, cabeças de gado e riquezas minerais que abastecem centros urbanos e movimentam a economia estadual. E, mesmo assim, permanece esquecida, sem asfalto, com pontes de madeira deterioradas, sem segurança para quem dirige e sem dignidade para quem vive.

Na Vila Cruzeiro do Sul, conhecida como Quatro Bocas, no município de Itupiranga, o agricultor familiar Francisco Valdivino Sousa, o “Chicão”, de 72 anos, descreve o que se tornou um grito coletivo da região: “O povo precisa de estrada, saúde que funcione, e educação de verdade”. Segundo ele, comunidades inteiras (Projeto de Assentamento) como cabo de aço, Cupu, Cabanagem, Bandeirante, Estrela do Norte, Maravilha, Cinturão Verde, Volta grande do tapirapé. seguem à margem de direitos básicos. Nessas extremidades se uma pessoa for acidentada ou sofrer de alguma doença de emergência, correm risco de vida por causa da distância e da falta de assistência.

Na Vila União, limite entre Marabá e Parauapebas, o pernambucano José Valdênio Barbosa, 55 anos, resume décadas de espera: “A energia está chegando, mas a estrada continua o maior desafio. São trinta anos ouvindo promessas.” Em sua voz, ecoa a esperança frustrada de quem viu caminhões cruzarem o tempo, levando riquezas e deixando para trás poeira e promessas.

Um ciclo que se repete

O que começou com o ciclo da madeira nos anos 80, transformou-se com o avanço do agronegócio e da mineração. Mas, para os que constroem a base dessa economia com as mãos calejadas, o progresso parece passar rápido demais… e sempre por cima de estradas esburacadas.

Apesar da força produtiva e do potencial de crescimento, vilas como: Santa Fé, Três Poderes, União, Bandeirante, vila Cupu (São Félix do Xingu). Panelinha, Capistrano de Abreu, São Pedro, Cruzeiro do Sul (quatro bocas) Vila Seca, Macaco Careca, Gelado, e tantas outras vivem sob a constante ameaça do esquecimento. São comunidades que já deveriam ter sido olhadas, mas que ainda brigam para serem reconhecidas como prioridade.

A estrada da região do Rio Preto é mais do que uma via de transporte. É o retrato de um Brasil que produz, que resiste e que exige respeito. Enquanto o asfalto não chega, a poeira cobre a dignidade de um povo que só pede o básico: ser visto, ouvido e valorizado.

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